PÁGINAS

segunda-feira, 7 de julho de 2014

"somos metáfora para a queda" - 2 poemas de Gustavo Petter



O arcanjo beija
um pássaro ferido.


Olhos brilham
a terrível ternura.
Artelhos tramam-se.
Acolhem.


Meu pequenino,
nossos sonhos
de cera
são signos
para poetas
malditos.


Meu pequenino,
somos metáfora
para a queda.



Brian Day

I

Estendem-se as pálpebras
sobre o sono das órbitas.

Não será sudário
o lençol ordinário
que simbolizou teu óbito.

O lençol cobrirá o leito
de outro enfermo,
o ciclo:
enfermaria lavanderia
enfermaria.

Dedos estendem as pálpebras
sobre as pupilas fixas
do morto.

Eu, menino que simulava
suicídios, sei
ser egoísmo desejar
a imortalidade
mesmo
a quem se ama
muito.

O poeta sente a música
das palavras
sob as pálpebras
cerradas.

II

Lástima
is
last
poem
que traduziria
a extrema experiência
murir
con el cuerpo.

Houvesse tempo
diriam ser
delirium tremens

Foda-se o paciente
ser poeta.
Plantonistas leem o prontuário:
histórico psiquiátrico,
miligramas prescritas
de medicamentos,
número do leito.
Foda-se o paciente
ser Leopoldo María Panero.

 


Gustavo Petter publica em: Agradável Degradado.