PÁGINAS

sábado, 29 de dezembro de 2012

Um poema bestificado


O adeus é ateu?


Parto pela porta
- Porta que embaçastes
Como se fosses
Tu que me abominasses
Com o toque das mãos?


Sem situar a omissão,
Suspeito da lente
Encardida:


Vejo vozes sacudidas
Vaiando por trás do andar
Da despedida


Parto pela porta
- Porta que excomungastes
Como se fosses
Tu que me abandonasses
Com o terço nas mãos?


Sem saber a oração,
Suspeito da frente
Espremida:


Vejo vozes suicidas
Vivendo por trás do altar 
Da despedida


(Cris de Souza)



sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

UM DIA TRISTE


Um dia triste assim, é só mais um dia
Tudo agora é passado, um sorriso calado
Um silêncio em mim, tão fúnebre, tão fel
Estou indo, caminho na estrada e ainda no pó.

Um dia triste assim, é só mais um dia
Desses dias, desses anos que passam por mim
O sem sentido, que para mim nunca mudou
Nos teus olhos eu vi o caminho do fim.

Um dia triste assim, é só mais um dia
Ainda estás por aqui, moras no meu peito
Ficas-te  agora no meu silêncio de verdade
E de sonhos tão sonhados, me desenhaste em saudade!


(Poema De Minha Autoria)

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Que não haja nenhuma alma solitária a ler um poema por essas horas.

Dois poemas 
Rossana Masiero


Duvida

Vai que esse poema
seja verso perturbado
e eu
equivocada
tento organizá-lo
Vai que esse apelo
seja vão de compreensão
enquanto arrisco
transcrevê-lo
Vai que esse ode
é anverso embaralhado
e torna-se avesso
E eu equivocada
e mal alocada
no universo
das palavras
insisto no tema
das coisas
esquivas.

Das madrugadas

Amanheço assim
desguarnecida
de dormências
Tão empoemada
e sentimental
Que meu lirismo
fende a madrugada
de desmesuras
e ensolaram de manhãs
Só sou um vórtice
onde versejam
sonhos mal dormidos
até onde se entoam
junto à vigília o
delírio das fictícias
melodias do poema.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Um poema de Nydia Bonetti

ágoras pós-modernas
há monges lá fora
e cantam salmos : entoam mantras
não são espelhos
são poucos
destoam
dos muitos iguais
tenho medo
do homem que faz a bomba
duplica seres : conquista o espaço
mas não respeita
o espaço do outro
(seu igual pelo avesso?)
em cavernas ainda
nem descobrimos o fogo
que nos iguala
quando nos torna cinzas
[... e o fogo do espírito
o tempo todo sobre nossas cabeças
animais


Nydia Bonetti

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

OS POEMAS DE CENTAURO


I
Agora que já
Estamos sozinhos
Permita-me provar

O fogo da peçonha
que alimenta
A alma inquieta

E me deixe apascentar
- Sem medo - os incautos
Girassóis do entardecer

II

Onde passeei os olhos
Havia paredes

Tateei nas redes
Do insólito

E a caligrafia do destino
Rabiscava a medo

III

Guardo os vestígios
Da tua última morada
Quando abrasavas o sexo
Das minhas mornas palavras

IV

Ruminarei as aragens
dessas mornas paisagens
e com (e)terna calma,
irei pastorear o silêncio
Na quadra de um rio

V
  
Perdoai a singela aurora
Que rouba dos olhos
A lágrima incandescente

Sinto algo de sal
Na idade reticente
Desse espírito
Que em mim habita
Essas palavras soltas

VI

Não há perdão para o silêncio
Que ora insinuas sob as vestes

Quero o pasto
delicado
da tua pele

e o repouso
sincero
de um abraço

VII

Nada mais que silêncio
Aflora desse estar inquieto
É um alvoroço sem fim
O horizonte inquebrantável

VIII

e tanta coisa era
ao mesmo tempo
- nada -

o espelho
refletindo
o deserto

o meu rosto
espraiado
na planície

e o claro enigma
da luz: decerto

Assis Freitas

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

3 Poemas de Daniela Delias


A dança

das pedras
diremos das pedras outra vez
dos pés e do limo
até que tudo reste ínfimo
e castas palavras dancem nuas
sob um céu vermelho-vivo

de nossa sede
não diremos

nem das noites em que vens
e farta de não ser
sangro em tua língua
caminho tuas costas


Azulejos

não dançamos aquele blues
nem daquele amor 
(de morrer tambores 
arrebentando o peito)
morremos

ontem reparei nos azulejos
nos respingos de tinta verde
sobre a pedra do alpendre

pensei em comida, correio
no preço do pão e das flores
no sol que lambe minha carne
na cor que cobre meus cabelos

é tão clichê morrer de amor
e nem dançamos aquele blues


Zepelim

eu poderia ser Alice
lábios cor-de-fim-do-mundo
atravessando o oceano
você veria um zepelim

eu poderia ser Alice entre tulipas
Amsterdam, tarde de outubro
você diria Rosa, Violeta
amor em mim, nome de flor

eu poderia ser Alice em seu quarto
ou num hotel à beira-mar, ao sul do mundo
você diria aqueles nomes absurdos
Rosa, Alice, Violeta, amor em mim
meu Zepelim ao sul do mundo

eu poderia ser Alice
e morar em seus versos

sábado, 15 de dezembro de 2012

Os afetos trazem-me as palavras...


E choro e rio e me deixo sentir somente... Tens a capacidade intrínseca de transbordar desejos... Tantos quantos em tuas telas regozijas... Soltas ferozes gritos de aventuras e dor para logo a seguir mostrar caminhos doces... Colores de vermelho teu fundo, teu emblema, teu coração apaixonado que é, por nossa humanidade... E assim te expões, expões a nós, reféns que somos desta vida bela...
                                                                                                                                                                                                               29/8/2012

Ao amigo Antonio Veronese

Antonio,
 dos rostos da agonia,
 das faces da fantasia,
 dos olhos de querer mais...

Antonio,
 das  dores de todos nós,
 dos sonhos mais verdadeiros,
 das  sedes escancaradas!

Antonio,
 Brasileiro de ontem,
 francês do hoje,
 do mundo ,enfim!

Antonio,
 que o Brasil deixou sair,
 mas que entranhado está em todos nós!!
                            
                                                                    Num destes outubros...


Atitude e sensibilidade

Atitude palavra forte porque requer sair da zona de conforto e ver-se de frente com a realidade, tomar pé da situação e seguir!!
Atitude, palavra forte porque requer olhar nos olhos das pessoas, sentir-lhes os anseios e ir em frente!
Atitude, palavra forte porque diz de colocar na estrada determinação, comprometimento e ação!!
              e,
Sensibilidade, ah! Sensibilidade tem a ver com deixar o afeto vir de encontro sem reservas, somente com a vontade de sentir e poder retribuir com ATITUDE!


Graça de Souza Feijó

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Oração

Me falta alguma certeza.As mãos cheias
o silêncio dos olhos inclinados ao mar.

Recolho migalhas de pão
para ofertar aos peregrinos do instante,

é meia noite
a poesia me visita com os olhos líquidos

fala dos braços navegando
dos passos teimando uma praia distante.

Inclino-me sobre a palavra
pássaros bicam o meu coração

a melancolia sorve meus olhos
tenho arames afinando meu canto.

o silêncio absorve minha voz
tento chegar o rosto a janela 

aconchegar o sussurro do vento
contemplar a paisagem além da montanha.

As paisagens, extensões do meu quarto
oceanos sugam o meu peito 

madrugada envolve as cordas vocais.
Há dias o sono não aquece meu pranto

sinto estar no mesmo tempo
em que os mortos regressam a mesa da vida

para celebrar o indizível,
junto a eles canto o exílio dos homens.

A solidão é bela, sublime
um movimento para o encontro.

Em meus olhos as aves extinguiram  vôo
estou tentando pertencer a algo.

Adormeço no colo da esperança:
Que a palavra me ajude a naufragar.

Sandrio Cândido

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Poemas de Dade Amorim




 Os párias


Os anjos da cidade vêm da esquina
de praças e barrancos
surgem do chão de surpresa
já sem asas
estão nos botequins
dormem nos bancos de praça
nas calçadas.

Sofrem de fome em bandos
sem ter aonde levar
seu cheiro
sua revolta.

Os anjos da cidade nos sitiam
deuses sem brilho
feitos de folhas secas e unhas.
São flébeis e nos avisam
com os olhos fugidios
:
o inimigo vem de qualquer lado.

Às vezes velam os que
por suas mãos
restaram mortos
e riem
diante desses anjos desfolhados.

Um anjo desossado ingressa às vezes
no sangue de quem passa
e deita em suas horas e adormece
de um sono escuro opaco de lembranças.

Os párias da cidade todo dia
geram outros anjos feitos
de fumo e cocaína e cola e craque.





Maria

 

 

Maria está diferente
pensa em flores
e elas chegam
ouve vozes
ri atoa.

O que acontece com ela
é uma voz no nextel
e Maria perde o freio.

O dia vem
de repente
antes do sol acordar
porque o poder de Maria
ilumina o mundo em volta.


 

Em família

 

Os pais os olhavam
tristes
como quem sofre
dores muito antigas
sonhos pisados
e um atavismo de culpas
sem remédio.

Na hora mais quente do dia
a casa em desalinho
longe do pai
a mãe lavando a louça
deixaram os brinquedos no porão
tentando salvar a vida
mais para lá do portão.

Levavam
olhos de choro
as dores já tão antigas
dentro da pele.