Um terror de cães com a rua dobrada
(o vento a arder uma representação violenta da passagem), recado posto em meio
à brancura da geladeira, lembro dum grito colorido de
sirene: apalpar a noite é um começo
de escrita, falávamos disso, os nossos labirintos,
e dissolvendo o açúcar
de cada angústia no nosso demônio
bêbado: transávamos o desejo se inventando, as infâncias comedoras de éter.
Periferias,
tiro, bala, bilhetes como corpos
transpirantes para drogar os olhos, e após as linhas, no fundo sanguíneo de
paredes úmidas.
Redigidos à mão nervosa, solucionaram
encontros sob uma janela de fundos falsos. Olha lá fora, na esquina dos versos
envelhecidos,
onde marcham são já os que não
deveriam passar, temperados pela escuridão (sobre eles, idealistas conjecturarão
a maldade), repara que
tremeluz em cada a feição própria do
abismo.
(Deve recordar que chorei,
derradeiro, o hino socialista que cantou seu sorriso.)
*
Poema de Viktor
Schuldtt. Leia mais do autor em: http://desterritoriosilencios.blogspot.com.br
5 comentários:
Viktor Schuldtt é dos meus poetas contemporâneos favoritos. Tem a poesia muito bem articulada, que desafia o olhar. Impossível digeri-la sem antes permitir que os demais sentidos sucumbam numa espécie de transe. Não deve ser lida a um só golpe, exige atenção, esforço. Em compensação, após a entrega do observador, a cada leitura em que se mergulha, descobre-se algo novo. Uma escrita mutante, viva, minuciosamente pensada, e ainda assim, emocionante.
não o conhecia, gostei muito, Larinha.
;)
beijos.
Segui os teus passos, Lara.
Aliás, o teu olhar crítico sobre o texto é certeiro. Apontas as linhas mestras da poética do Viktor.
Ele é, de fato, um poeta de nomeada. Digo porque fui lá na fonte e conferi outros poemas. Boa a escolha, a indicação. Olhar de poeta.
Abr.,
Boa dica Lara ! Além das qualidades que vc ressaltou no seu comentário, gostei tb pela força contida no poema.
Não o conhecia, mas eis ai um poeta que te aguça todos os sentidos... Gostei muito e também adorei o blog...
Beijos
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