A pele do tempo
Nasce de um sopro uma bolha
um nada e se faz
se forma e sobe e voa
e vive e voa
leve
e voa e vive
um momento
o sopro o vento
A pele a película
a tênue fronteira entre o sopro de dentro e o sopro de fora
a pele envelhece/
transparece
a morte iminente
No lento o instante
o meio instante
o menor instante e o menos
e o mínimo
e o ínfimo e o mínimo
e o átimo
O tempo de fora já indo
o tempo de dentro cortado em miúdos
a cada miúdo respira
e cada miúdo respira
resiste
reside
no dentro
por dentro
o dentro
Até que a pele se rompe
e o tempo de dentro se espalha pelo tempo de fora
e a bolha que é pele
espelho entre o dentro e o fora se espraia
e a esfera se torna apenas espera
uma pausa
uma síncopa
vida que nunca se encerra
© Mercedes Lorenzo |
Testamento
Eu - e há tempos a palavra não floria
morri hoje, deixei de mim
um mínimo nem tijolo
de obra inacabável:
alguma semente já fora da terra
água em vapor de fagulha
e uns ares nos metais
de certos olhos.
*
Vagner Muniz (São Paulo - SP) é poeta, designer e professor universitário. Publica seus poemas em Nóstres e Mallarmargens.
4 comentários:
A poesia de Vagner Muniz é entidade sutil. Relendo seus poemas vou descobrindo feixes de luz escondidos entre cada verso. A beleza do que não faz alarde e que, ao mesmo tempo, aos passar pelos olhos, segura o ar por uns instantes.
Lara,
você, mais uma vez, recarregou meu espírito.
Essa luz vem de você.
Um beijo.
Vagner
que final.
"ares nos metais de certos olhos".
é a certeza de que as relações do ser se sentem, e os olhos são a inevitável janela da alma.
muito bom.
Thuan, muito obrigado pela leitura!
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