PÁGINAS

domingo, 15 de dezembro de 2013

2 poemas de Vagner Muniz




A pele do tempo

Nasce de um sopro uma bolha
um nada        e se faz
se forma        e sobe        e voa
e vive e voa
leve
e voa e vive
um momento
o sopro        o vento

A pele a película
a tênue fronteira entre o sopro de dentro e o sopro de fora
a pele envelhece/
transparece
a morte iminente

No lento        o instante
o meio instante
o menor instante e o menos
e o mínimo
e o ínfimo        e o mínimo
e o átimo

O tempo de fora já indo
o tempo de dentro cortado em miúdos
a cada miúdo respira
e cada miúdo respira
resiste
reside
no dentro
por dentro
o dentro

Até que a pele se rompe
e o tempo de dentro se espalha pelo tempo de fora
e a bolha que é pele
espelho entre o dentro e o fora se espraia
e a esfera se torna apenas espera
uma pausa
uma síncopa
vida que nunca se encerra


© Mercedes Lorenzo

Testamento

Eu - e há tempos a palavra não floria
morri hoje, deixei de mim
um mínimo nem tijolo
de obra inacabável:

alguma semente já fora da terra
água em vapor de fagulha
e uns ares nos metais
de certos olhos.

*


Vagner Muniz (São Paulo - SP) é poeta, designer e professor universitário. Publica seus poemas em Nóstres e Mallarmargens.

4 comentários:

Anônimo disse...

A poesia de Vagner Muniz é entidade sutil. Relendo seus poemas vou descobrindo feixes de luz escondidos entre cada verso. A beleza do que não faz alarde e que, ao mesmo tempo, aos passar pelos olhos, segura o ar por uns instantes.

vagner mun disse...

Lara,

você, mais uma vez, recarregou meu espírito.
Essa luz vem de você.
Um beijo.

Vagner

Thuan Carvalho disse...

que final.

"ares nos metais de certos olhos".


é a certeza de que as relações do ser se sentem, e os olhos são a inevitável janela da alma.

muito bom.

vagner mun disse...

Thuan, muito obrigado pela leitura!