ORAÇÂO PARA AS PAREDES
Todas as manhãs
virava um padre,
ele era feliz com a sua loucura.
Quando o sol despertava seu dia,
ele incorpora sua outra postura.
Gritando que salvaria o rebanho,
lia alto as sagradas escrituras.
Ninguém queria ouvir da palavra,
logo, bradava em elevada altura.
Falava aos seus fiéis-fantasmas,
dizia que sabia qual era a cura.
O passado do velho era sinistro,
por isso buscava a sua redenção.
Faz a reza para as suas paredes,
o seu público era só imaginação.
Esse senhor não via outra saída,
necessitava se dedicar à oração.
Dizia ao seu público imaginário:
“deus é a nossa única salvação!”
E assim, o padre esquizofrênico,
marcha sozinho com a sua missão.SEM MAQUIAGEM
Dizem que ele é
muito forte,
que nem tinha medo da morte.
Mas o seu coração não é de aço,
se escondendo atrás da piada,
nem o seu ofício de palhaço
autoriza alguma risada.
— Quando o seu rosto está pintado,
como o poeta, é amado.
Nunca teve muitos amigos,
só a sua sombra anda consigo.
Dividindo a vida meio a meio:
um lado vive na solidão
o outro lado, no riso alheio;
são dois homens em um coração.
— Sem a maquiagem é anônimo,
como o poeta sem pseudônimo.
O palhaço, mestre do riso,
era movido por sorrisos.
Mas com uma piada sem graça,
fica reduzido ao ridículo;
sente uma dor que nunca passa,
como pancada no testículo.
— O palhaço mostra suas cores,
como o poeta, as suas dores.
O palhaço ganha coragem
quando está com a maquiagem.
Ele não sente nenhum medo,
parece ser uma pessoa pura
que não esconde seus segredos;
faz do seu trabalho, sua cura.
— Ele só sabe trabalhar,
como o poeta, só chorar.
Quando põe o nariz vermelho,
sonha, encarando o espelho.
Às vezes pensa em desistir,
mas pensa ser tarde demais,
pois se pararem de sorrir,
ele não ficará em paz.
— Ele tenta deixar de ser,
como o poeta, se perder.Para ler mais de Fred Caju acesse seu blog SÁBADOS DE CAJU
4 comentários:
Fred, um prazer ler alguns de teus poemas também aqui no "Poetas Vivos".
Obrigada, Marcantonio!
Abraços aos poetas.
Estranho, aparece lá que os poemas são de Lara, e são do Fred. Mas, enfim, um viva ao Fred e outro a Lara. Sim, e um terceiro ao Marcantonio.
Beijos,
Dois da minha menina dos olhos, o Monopólio da Solidão.
PS: Em Oração para as paredes o verso "O passado do velho era sinistro" dá início a uma nova estrofe (o poema tem duas). E o dístico: "— Quando o seu rosto está pintado,/ como o poeta, é amado" é da primeira estrofe do Sem maquiagem. Coisas de formatação do Blogger, entendo.
Abração, Marcantonio!
Duas doses medicinais de cajuína para um corpo enfermo pela ausência de bons versos que o revigorem!
Muita paz!
P.S.: Senhores, vai aí uma sugestão: retirem a obrigação de por esses malditos caracteres após o preenchimento do quadro de comentários.
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