IMAGENS DO MUNDO FLUTUANTE
(Josely
Vianna Baptista)
RIVU A água mede o tempo em reflexos vítreos. Mudez
de clepsidras, no sobrecéu ascendem (como anjos
suspensos
numa casa barroca), e em presença de ausências o
tempo
se distende. Uns seios de perfil, sono embalando
a rede, campânula encurvada pelas águas da chuva.
No horizonte invisível, dobras de anamorfoses;
sombras que se insinuam, a matéria mental.
SCHISMA Cobre se refletindo a ouro-fio nos olhos:
sem pano nem cordame, os móbiles oscilam, barcos
sem rumo, a esmo (desertos), rio adentro
(no leito cambiante), sem remo ou vela
ao vento. Vogam no entremeio, rio afora,
no linde (os sonhos) - superfície.
Nuvens e água, pênseis, a ouro-fio nos olhos.
Inverso de mortalha, os lençóis correm em álveos:
os barcos têm velâmens.
RESTE Um vento anima os panos e as cortinas oscilam,
fronhas de linho (sono) áspero quebradiço; o sol
passeia
a casa (o rosto adormecido), e em velatura a luz
vai desenhando as coisas: tranças brancas no
espelho,
relógios deslustrados, cascas apodrecendo em seus
volteios
curvos, vidros ao rés do chão reverberando,
réstias.
Filamentos dourados unem o alto e o baixo
- horizonte invisível, abraço em leito alvo:
velame de outros corpos na memória amorosa.
VELU Lúcido pergaminho, pele argêntea, de prata
(bolsa d'água, placenta), nas raízes aéreas. A
cera
e a polidez da pétala encoberta: brácteas
que se abrem (túnica) e desabrocham: filandras
e nervuras na placidez selvagem - flor
e acontecimento que se desdobra em flor.
(Velâmens, em camadas, evoluem no ar.)
A gravidez sem peso dos pecíolos no limbo.
Josely Vianna Baptista, poeta paranaense (Curitiba, 1957), classificou-se em 3.º lugar no Prêmio Jabuti 2012, na categoria Poesia. |
Livros de poesia: Ar (1991), Corpografia (1992) e Outro
(em co-autoria com Arnaldo Antunes, no álbum de arte homônimo de Maria Angela
Biscaia, 2001).
2 comentários:
Obrigado, Tania.
Ainda bem que deu certo a postagem.
Vamos continuar a divulgar os novos poetas.
Jayme
Que lindos poemas de Josely Vianna Baptista!
Belíssimos!
Grande abraço, prof. Jayme! Obrigada por compartilhá-los conosco.
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