“faço livros como quem cria contradições, cria
nós, solta bombas no meio da rua. qualquer coisa q pareça o contrário disso
não é minha literatura.
e em tudo o q exerço minha “visão de mundo”
exerço como um deslocado, um ser estranho q vive pra minar o existente, o
institucional, o estabelecido: jogo pra quebrar as regras, por não poder estar
em outro lugar, outro tempo: aqui e agora é o campo e o momento da luta. por
isso não pertenço a nenhum lugar, seja cidade, região, país ou mundo. escrevo
como respiro: contra o horror”
Alberto Lins Caldas
http://poemasalbertolinscaldas.blogspot.com.br/
*
● lingua gente e corpos doentes ●
● esses mesmos os de sempre ●
● me empurraram pro navio ●
● isso faz mais de vinte anos ●
● sem olhar pra tras ou pra frente ●
● sem querer nada apenas fugir ●
● sem precisar chegar ou partir ●
● apenas algo entre os dentes ●
● alem e depois do tempo ●
● me escondendo ali por dentro ●
● comendo lixo com os ratos ●
● vivendo o medo pelas brechas ●
● degustando a loucura de todos ●
● a fome dos famintos e a dor ●
● de todos e de todos o suor ●
● esse q jorra sempre pra outro ●
● descobriram e me jogaram ●
● nas ondas gordas desse mar ●
● sem uma balsa sem nada ●
● apenas as ondas e a saliva ●
● ate essa terra isso desolado ●
● q de tão triste sempre me escapa ●
● e o pior o pior de tudo ja e agora ●
● é q não ha mais sonho ou coragem ●
*
 |
George Georgiou |
*
● as abelhas chegaram hoje cedo ●
● e ate agora zumbem ao redor ●
● da cabeça de bronze da estatua ●
● aqui no centro da nossa cidade ●
● e algumas ja entraram pelo ouvido ●
● e aos poucos vão sumindo la dentro ●
● sabemos q essa colmeia violenta ●
● vai nos alimentar por muitos anos ●
● depois q a fome começar ●
● mas não temos segurança alguma ●
● q enlouqueçam e vão embora assim ●
● sem avisar nos deixando todos ●
● na mais desesperada fome e raiva ●
● se bem q devemos esquecer isso ●
● devemos dançar e rir e gozar ●
● acordar as fogueiras e dançar ●
● por muito tempo teremos mel ●
● e a triste presença das abelhas ●
*
 |
Raymond Depardon |
*
● esse punhal dente de sabre ●
● esse punhal carrego entre costelas ●
● bem enterrado entre pulmões e coração ●
● isso mais ou menos ha doze anos ●
● quando lutamos e perdi ●
● exausto ate hoje inda sem saber ●
● havia sempre matado tigres e chacais ●
● principalmente em noites como aquela ●
● sob as luas sangrentas entre os rebanhos ●
● e foi vencido porq esse é o caminho ●
*
 |
Gerardo Montiel |
*
● assim ficamos sabendo ●
● q kavafis ●
● o arpoador negro ●
● q chegou depois da sopa ●
● matou ●
● entre o nascer●
● e o por do sol ●
● quinze baleias ●
● porq o tempo permitia ●
● tambem porq ●
● naquele mundo ●
● havia homens e arpões ●
● e a vida era tão maior ●
● q não se pensava nisso ●
*