PÁGINAS

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Dois poemas de Nilson Barcelli

Dentro de ti

Dentro de ti,
és a mulher sem-par que tenho,
mas não pego,
de ti, o gozo nos meus braços totalmente.

Dentro de ti,
vou-te perdendo tolhido
pelo mutismo da renúncia,
cada manhã despida de horizontes
faz crescer o meu exílio
e cada voz em silêncio é uma grade
acrescentada na minha prisão.

Dentro de ti,
com o sol a morrer em pegadas de imundície
e varrida pela
brisa enxovalhada na mentira que campeia,
não há trabalho nem pão.

Dentro de ti,
já não sei se és minha mãe,
porque os tempos, mátria minha,
não se cruzam com a nossa liberdade.
Mas eu não te renego, ainda que hoje sejas
a minha pátria mal-amada.


(Poema: Nilson Barcelli © Julho 2012)



Do outro lado da porta

Logo que as doze badaladas soaram,
fez-se um silêncio de porta blindada, impermeável.

Os pássaros tristes [um de cada lado],
apesar de muito vivos e finos,
sentiram a bravura domada pela espessura
[vazia nas mãos] das festas há muito trocadas.

Um, pintou o mar imenso na porta,
mas não pensou no caminho marítimo para a Índia.

O outro, pintou um pomar, mas não foi
o sabor dos frutos que lhe veio à lembrança.

Agora, com o eco das doze badaladas às costas,
caminham com o óbvio na barriga
a ensaiar o olhar no aquém do horizonte [a aliança
está morta], mas todos os caminhos da mente
vão dar a Roma, do outro lado da porta.


(Poema: Nilson Barcelli © Novembro 2010)


Blogue do Nilson: NimbyPolis



Um comentário:

Tania Anjos disse...

Os poemas de Nilson Barcelli são belíssimo, Joelma!

Excelente escolha!