PÁGINAS

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

TRÊS BELOS POEMAS DE GERMANO XAVIER



Rótulo

vou passar a amar a palavra
como jamais amei,
vou lhe dar um nome
escolher um sobrenome

vou amar a palavra
acima de todas as coisas
e abaixo de todas as outras
assim como amo as coisas do meio
sem receio

amar a palavra que é a coisa
própria coisa da coisa própria
o nome próprio que é seu

amar a borboleta da palavra
larva na lavra lava para depois
do casulo, o vulcão e a asa


Objeto a falha no que me atualizam resoluções

Para Mariza Lourenço

tome um café
sinta, senta (será que você sente?)
café esperta a alma
(o mundo tão down...)
sem alma
tá danado viver
prum cara que nem deveria ter nascido
imagine a dureza

eu gostei do cachecol dobrado assim
no teu pescoço
você ficou uma puta charmosa

- vieni qui, bambino

nossas línguas quentes
não pelo café
pela dor de tudo
o amor de tudo
olha só aquele que vai por lá
vai carregando o mundo

sabe, italiana, sabe
tá me faltando punch
cimento crueza cinza mortalidade
me contorce
nenhum mito existe
eu que acredito tanto

senta aqui
meu colo pode ser o único lugar possível
o espaço aliado
o front vivo
não me deixes sem tua pele

eu pedi um drink vermelho porque é a oportunidade estou aqui debruçado na janela olhando o mundo lá fora o mundo aqui dentro é tão irreal o mundo lá fora é tão fotográfico quanta miséria hidrantes sem água calçadas sem 

bueiros

vê se te manca
caia fora enquanto podes
não adiantará nenhum relatório
posso sentar aqui?


Umbilicus

em nossa fábrica
fabrica-se o ilógico pano das cortinas,
das cortinas plásticas, elásticas, fluxíveis, leves
como plumas, rijas como planos,
densas como brumas e você,
este puma,
animal arisco no teatro sem vista para o ser.

em ti me junto, emplastro, me uno,
me curvo me cubro me deixo
ir

que somos feitos na mesma fábrica
com grosseiros ingredientes de iguais
e não nos conservamos. não, vamos,
e indo nos deixamos nos anos e nos amamos
na praça da fábrica que fundamos
de amor líquido, de amor sólido,
de amor-gás

tão voláteis como nossos reencontros.


Germano Viana Xavier, de Iraquara – BA, é poeta, escritor, professor e jornalista. Outras belas publicações do autor podem ser lidas em seu blog “O Equador das Coisas”: http://oequadordascoisas.blogspot.com.br/


5 comentários:

Germano Viana Xavier disse...

Poemas, poemas, poemas.
Quem vive sem eles não vive.

Tania Anjos disse...

Belos poemas, Germano Xavier!

Agradecemos a Daniela Delias por tê-los "guardado" aqui conosco.

Grande abraço e parabéns, poeta!

Daniela Delias disse...

Ele é incrível...

Bjo!

Cris de Souza disse...

Trago os poemas enquanto tomo um café.

Beijos!

Paulo_Sotter disse...

Lindos poemas, inspiradores. Excelente escolha. Abraço