“faço livros como quem cria contradições, cria
nós, solta bombas no meio da rua. qualquer coisa q pareça o contrário disso
não é minha literatura.
e em tudo o q exerço minha “visão de mundo” exerço como um deslocado, um ser estranho q vive pra minar o existente, o institucional, o estabelecido: jogo pra quebrar as regras, por não poder estar em outro lugar, outro tempo: aqui e agora é o campo e o momento da luta. por isso não pertenço a nenhum lugar, seja cidade, região, país ou mundo. escrevo como respiro: contra o horror”
e em tudo o q exerço minha “visão de mundo” exerço como um deslocado, um ser estranho q vive pra minar o existente, o institucional, o estabelecido: jogo pra quebrar as regras, por não poder estar em outro lugar, outro tempo: aqui e agora é o campo e o momento da luta. por isso não pertenço a nenhum lugar, seja cidade, região, país ou mundo. escrevo como respiro: contra o horror”
Alberto Lins Caldas
*
● lingua gente e corpos doentes ●
● esses mesmos os de sempre ●
● me empurraram pro navio ●
● isso faz mais de vinte anos ●
● sem olhar pra tras ou pra frente ●
● sem querer nada apenas fugir ●
● sem precisar chegar ou partir ●
● apenas algo entre os dentes ●
● alem e depois do tempo ●
● me escondendo ali por dentro ●
● comendo lixo com os ratos ●
● vivendo o medo pelas brechas ●
● degustando a loucura de todos ●
● a fome dos famintos e a dor ●
● de todos e de todos o suor ●
● esse q jorra sempre pra outro ●
● descobriram e me jogaram ●
● nas ondas gordas desse mar ●
● sem uma balsa sem nada ●
● apenas as ondas e a saliva ●
● ate essa terra isso desolado ●
● q de tão triste sempre me escapa ●
● e o pior o pior de tudo ja e agora ●
● é q não ha mais sonho ou coragem ●
*
George Georgiou |
*
● as abelhas chegaram hoje cedo ●
● e ate agora zumbem ao redor ●
● da cabeça de bronze da estatua ●
● aqui no centro da nossa cidade ●
● e algumas ja entraram pelo ouvido ●
● e aos poucos vão sumindo la dentro ●
● sabemos q essa colmeia violenta ●
● vai nos alimentar por muitos anos ●
● depois q a fome começar ●
● mas não temos segurança alguma ●
● q enlouqueçam e vão embora assim ●
● sem avisar nos deixando todos ●
● na mais desesperada fome e raiva ●
● se bem q devemos esquecer isso ●
● devemos dançar e rir e gozar ●
● acordar as fogueiras e dançar ●
● por muito tempo teremos mel ●
● e a triste presença das abelhas ●
*
Raymond Depardon |
*
● esse punhal dente de sabre ●
● esse punhal carrego entre costelas ●
● bem enterrado entre pulmões e coração ●
● isso mais ou menos ha doze anos ●
● quando lutamos e perdi ●
● exausto ate hoje inda sem saber ●
● havia sempre matado tigres e chacais ●
● principalmente em noites como aquela ●
● sob as luas sangrentas entre os rebanhos ●
● e foi vencido porq esse é o caminho ●
*
Gerardo Montiel |
*
● assim ficamos sabendo ●
● q kavafis ●
● o arpoador negro ●
● q chegou depois da sopa ●
● matou ●
● entre o nascer●
● e o por do sol ●
● quinze baleias ●
● porq o tempo permitia ●
● tambem porq ●
● naquele mundo ●
● havia homens e arpões ●
● e a vida era tão maior ●
● q não se pensava nisso ●
*
4 comentários:
a poesia em constante desconcerto,
abraços
Admirável poeta, sem dúvida! É ler e desenredar-se!
Beijo!
Assis,
muito bem colocado os termos "instigante" e "desconcertante" para a poesia de Alberto Lins Caldas - poeta que eu não conhecia. Por isto, fiz uma breve pesquisa encontrei no site Trema Literatura uma entrevista, por Marcelo Ariel - muito interessante! -, que me ajudou um pouco, eu acho, na leitura de seus poemas. Vou destacar parte dessa entrevista:
"4. Qual é o centro para o qual converge seu trabalho literário?
sempre parte de um enfrentamento do horror. e converge pra essa mesma ação. por isso não é mimética como toda a literatura brasileira.
é literatura contra a literatura brasileira e tudo q ela representa, contra todas as forças q sustentam ela e dela emanam. por isso é literatura sem centro e sem periferias. é jogo livre de forças contra o horror. um desmantelar as naturalizações e universalizações duma língua q não consegue soltar o colonizador, o patrão, o papa, o senhor das costas."
"6. E a vida?
toda prática e toda teoria q tem a vida como princípio esconde um mecanismo simples: salvar vidas, conservar vidas, manter vidas, defender vidas: valorar a vida tem uma função estratégica e tática, serve pralguma coisa (antes de significar ele serve de algo, serve a algo: ele significa pra servir: é teórico pra ser prático): valorar positivamente e salvar pra trabalhar, se reproduzir, consumir, servir: a escravidão, a exploração, as produções: vida q não trabalha, não se reproduz, não consome, não serve, não é a vida defendida (ou é forçosamente defendida: por extrapolações forçadas: a significação, nesse momento, parece ser essencial: a teoria supera a prática, o sentimento supera o operacional) por medicinas, filosofias, morais, políticas, educações. (...)"
http://www.tremaliteratura.com/2010/05/alberto-lins-caldas-entrevista.html
Lendo seus poemas, uma viagem... (mundo afora - e a fora e a dentro do(s) mundo(s)...)
Belo post!! Poemas incríveis!
Maravilha de poeta!
Postar um comentário