PÁGINAS

terça-feira, 9 de outubro de 2012

DOIS POEMAS DE ZULMIRA RIBEIRO TAVARES


Vida: objeto de desejo

Nós desejamos pinguins.
Não os de geladeira
com seu peso fixo de massa pintada
sua estatuária de cozinha
sem nenhum sopro de da Vinci.

Nós desejamos pinguins.
Não os das geleiras
que nos esfriam os dedos
ao toque de suas penas firmes.
Frios são os caminhos que a morte nos envia.

Desejamos os pinguins de nosso assombro
fechados dentro de nós no desejo
como pérolas nas ostras.
Ostras não sabem das pérolas
que engendram e trazem consigo.
E nós que os formamos do escuro,
deles só temos o rastro, pinguins,
com seu brilho
de nácar.


De velhos cadernos escolares


Partimos de barco em direção à ilha, pequena,
redonda e verde como a dos cadernos escolares.
No centro, alguns coqueiros.

Ao pisarmos o seu chão, desfez-se, desprendendo
cheiros de vegetação e terra úmida que se
juntaram ao de maresia. Como se no ar à nossa
volta perdurasse em novo arranjo, ilha e mar.

O equilíbrio na água era precário. Certo tremor
agia em cada um como instrumentos de corda
quando a propagação de sons tem seu início.
De volta ao barco não olhamos para trás, nem
que figura ali deixáramos às nossas costas, sem
real força remissiva.

Zulmira Ribeiro Tavares – São Paulo, 1930.
Romancista, contista, poeta, ensaísta e crítica de cinema.

3 comentários:

Fred Caju disse...

Massa o segundo!

Jayme Ferreira Bueno disse...

Obrigado, Fred, por gostar do poema.

Tania Anjos disse...

Linda a poesia de Zulmira Ribeiro Tavares. Obrigada por compartilhá-la conosco.

Abraços, Prof. Jayme!