PÁGINAS

terça-feira, 21 de maio de 2013

TRÊS POEMAS DE JOÃO MANUEL SIMÕES


PENÉLOPE

Enquanto a noite cresce e a lua brilha,
faço e desfaço, sem descanso, a teia,
no tear infinito da quimera.
Ulisses há de vir da sua ilha.
Mas enquanto não vem, minha odisseia
é ir tecendo, em pranto, a longa espera.


SANCTA POESIS

Luz que se tece
de sombra
e claridade.
Sua textura,
só quem a acende
sabe.
 
Flor no silêncio.
Seu colorido,
só quem a colhe
enxerga.

Explosão irisada
de metáforas.
O seu fascínio,
só quem a deflagra
entende.


Cruz implacável sobre cujos braços
me prego, sangro, morro
e ressuscito
para a vida efêmera.

 DIÁLOGO COMIGO

Falo comigo, falo.
Mas só me escuto quando,
em silêncio pensando,
me calo.

O que diz minha boca?
Mentira vã, sonora?
Tudo o que digo agora,
sufoca.

Ânsia íntima, larga,
de seguir só e mudo.
Tudo o que conto, tudo
amarga.

Minha voz de ontem brota
de um legendário hoje.
Subitamente foge,
ignota.

Quem serei? Desconheço.
Se chegar a sabê-lo,
a ninguém o revelo:
esqueço.

(João Manuel Simões, poeta e contista, nasceu em Portugal e vive em Curitiba/PR).

 

2 comentários:

Jayme Ferreira Bueno disse...

São poemas do livro Ladainha do ser, de 2011.

Tania Anjos disse...

Belíssimos, Prof. Jayme!

Belíssimos...