Devaneios quase possíveis
O sol derreteu-se devagar
a escorrer pela ponta de um pincel macio,
no corpo daquela manhã.
Lenta e preguiçosa,
a tarde, insegura e tonta,
perde-se em divagações em tal cenário.
Ao pintor imaginário
resta a tela e um desafio: cerzir na noite
uma nova manhã.
Sobras de gotas douradas,
novos ares, nova vida,
matéria viva
[até algo surgir da costura agonizante].
Eliana Mora, 11/4/13
____________________
Por um instante, ainda
Por um instante, ainda
se a vida parar
se a tela do mundo escurecer
se o brilho do asteróide ainda conseguir nos alcançar
pronta estarei para tudo
que pode ser um nada
o vazio de um amor que não pode esperar
não importa o som dos pássaros
o alarido de algum nada a me chamar
estarei disposta
recosta aqui sonho meu
abre todas as comportas
pensa que existo
com isto me leva onde quiseres
se pensas que sou eu ainda
se reflito a cor do pensamento teu
retira-me do ponto de partida
anula-me num todo inconsequente
e pula-me a brincar de vida
porque ela é sim
a dona disso tudo
enquanto minha dor resplandecer
num tolo e mágico segundo
atira-me a ti
[que - juro - não resistirei]
Eliana Mora, 30/3/13
Eliana Mora - Lírio deserto