PÁGINAS

sexta-feira, 12 de julho de 2013

A EXTRAORDINÁRIA AVENTURA ACONTECIDA A VLADÍMIR MAIACOVSKI, CERTO VERÃO, NO CAMPO.

Puchkino, Monte Akula, aldeia de Rumiantzov,
a 27 verstas de Iagroslav por estrada de ferro

..............
Cem sóis flamejavam no horizonte.
O pleno verão se despejava em julho.
Um tremendo calor boiava no ar
e isto aconteceu no campo.
Puchkino tem às costas
a corcunda do Monte Akula
enquanto a seus pés
uma aldeia retorce a casca enrugada
de seus telhados.
Atrás da aldeia havia
um buraco
onde todos os dias
lento e majestoso
o sol se escondia.
E a cada manhã
dali se levantava
rubro como sempre
para inundar o mundo.
Dia após dia
aquilo se repetia
até que acabou por me irritar
terrivelmente.
Enfim, num acesso de cólera
capaz de tudo abalar de medo,
gritei direto à cara do sol:
“Ei tu! Desce daí!
Sai dessa cova piolhenta!”
Gritei-lhe nas bochechas:
“Tu, pedaço de vagabundo
vives deitado num berço de nuvens
enquanto eu tenho que ficar
aqui sentado
seja inverno ou verão
a desenhar cartazes”.
Bradei-lhe nas barbas:
“Espera!
Escuta, seu carranca de ouro,
por que, em vez de flanar por aí,
não vens me fazer uma visitinha?”

Que fiz eu!
Agora estou frito!
Eis que
em minha direção
o sol em pessoa
avança.
Suas pernas de luz
a largos passos
marcham sobre os campos.
Fingindo não estar assustado
ensaio a retirada.
Seus olhos agora
atingem o jardim.
Já o atravessam agora.
Através das janelas,
portas,
frestas,
penetra a massa solar.
E logo ao entrar,
recobrando o fôlego, diz
numa voz de baixo-profundo:
“Pela primeira vez
desde a criação do mundo
suspendi minha função.
Tu me convidaste?
Pois então, poeta,
tomemos o chá.
E não dispenso a geléia!”
Olhos lacrimejantes –
Eu estava louco de calor –
Apontei-lhe o samovar:
“Bem, queira sentar-se
Meu astro!”
Ah! que diabo me fez soltar
Aqueles insultos ao sol!
Encabulado
sentei-me na ponta da cadeira
com medo do que pudesse acontecer.
Mas do sol fluía
uma estranha, serena luz
e dentro em pouco
já à vontade
os dois nos pusemos a conversar.
Falei-lhe de coisa e loisa
e de como a Rosta me arrasava.
Disse-me então o sol:
“Não te aflijas tanto.
Faze tudo o que te cabe.
Pensas, por acaso,
que pra mim é fácil
isso de iluminar?
Experimenta e verás!
Mas, visto que assumi
o encargo de dar luz à terra,
pois então ilumino
o melhor que posso!”
E assim charlamos
Até o escurecer...
perdão, até o momento
em que antes era noite.
Pois que espécie de escuridão
pode existir
quando o sol está presente?
Já agora, íntimos um do outro,
nos tuteamos familiarmente.
Já agora, amigavelmente,
dou-lhe tapinhas nas costas.
Então disse o sol:
“Bem, cá estamos, meu velho.
Tu e eu formamos uma dupla.
Voemos, poeta,
à altura das águias.
Cantemos
Para espantar as trevas do mundo.
Eu derramo luz
e tu outro tanto fazes
esparzindo teus versos”.
O muro das sombras,
prisão das noites,
tombou
ao impacto gêmeo
dos canhões solares.
Feixes de luz e versos
brilhei quanto puderdes!
Se o outro se fadiga
e a noite pretende espichar
sua estúpida cabeça sonolenta
então compete a mim
erguer-me e brilher
para que de novo ressoe
o carrilhão do dia.
Iluminar sempre
por toda parte,
até o último alento
iluminar!
O resto não importa.
Tal é o meu lema,
igual ao do sol.

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Antologia poética
Vladímir Maiakovski
Editora Max Limonad - Pgs. 133 - 136

2 comentários:

Fábio Murilo disse...

Muito bonito! Me lembrou esse aqui, só que o cara conversou com as estrelas.

REUNIÃO DE ESTRELAS

Entrem,
Entrem.
Queiram entrar, senhoritas estrelas.
Se hão de ficar a noite espiando pela janela.

É melhor que entrem
Se alguma coisa lhes interessa.
Podem entrar sem receio.
Se alguém perguntar o que é isto no meu quarto
Direi que são vaga-lumes.

Perdoem recebê-las neste traje
Gasto de solidão.
É meu traje de casa.
Não, senhoritas
Isto não é um pedaço de lua.

É minha cama
Cuja brancura é mantida por minha mãe
Vocês, habituadas e se mirarem em águas planas,
Não se assustem se virem verticais
No espelho do guarda-roupa.

Quando eu acender um fósforo
Não pensem que fabrico estrelas.
O lavatório também lhe interessa?
Pois bem, é ai
Que todas as manhãs
Mergulho n’água
A cara tresnoitada.

Oh! Já se vão?
Bem. Até outra noite.
Mas antes de irem embora
Porque não se alinham como letras de
Anúncios luminosos
Enquanto lhes vou ditando nomes desaparecidos?

Depois
Para que lá em cima não notem a hora de chegada,

Perguntem ao meu sonho
Como entrou de mansinho em meus olhos fechados.

Júlio Barrenecha/Tradução Cecília Meireles

http://apoesiaestamorrendo.blogspot.com.br/

Evanir disse...

Fico imensamente feliz quando tudo
se encaminha para a luz do bem e da verdade.
Quando tudo , que eu acredito esta acontecendo comigo.
Eu vejo a luz no final
do túnel iluminando minha saída para um mundo
risonho e muito mais feliz .
Eu acredito na paz , que existe no amor
e na verdade.
Quando olhar à sua volta e só enxergar somente problemas,
busque a verdade, que esta dentro do seu coração.
Amigos verdadeiros é como anjos da guarda
enviado dos céus , todos criados por Deus.
Agradeço a Deus cada laço de amizade ,
que eu criei nesse mundo.
Hoje desfruto do amor e
da bondade de vocês.
Deus esteja sempre contigo
nessa caminha longa das nossas vidas.
Um abençoado final de semana,
beijos e meu carinho hoje e sempre ,Evanir.
A algum tempo não lia uma postagem tão boa ..o melhor belíssima.