PÁGINAS

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

"Convocamos um minuto de revolta"



Próximo!

A minha justiça encurva-se aos ultimatos da ProleSocioCapital.
Minha reputação cai por terra
quando minha tecnologia é antiquada:
o mesmo celular, o mesmo computador, o mesmo ...
O mesmo após dois anos causa-me alcunhas: Antediluviano, Subdesenvolvido, Decadente!

Nosso apetite alargou:
Temos fome de fibra óptica, fome de silício, fome de plasma,
fome de ver a realidade projetada através de um elemento artificial.

Bons tempos àqueles que a contradição
paria lutas.
O futuro nos oferecerá ventos e chuvas
nas salas de espera.


*

O Tear de Gaza

Arte: Lisa Alves

ATO I

A Agulha

Contaram que em Gaza duas crianças
brincavam de tabuleiro
quando a Estrela de Seis Pontas
expediu um míssil que emudeceu a casa inteira.
(vermelho, cinzas e fogo)
A mãe (que estava em seu tear) acolheu o informe
através do padeiro e, por conseguinte
cravou uma agulha no coração (repetidas vezes)
enquanto proferia uma maldição repleta de pranto:

Oh, filhos de Israel!
Não haverá espigões para resguardarem 
vossas rosas.
A agulha que me lança
nos braços dos meus antepassados
derramará veneno sobre
a ceifa futura e 
teus filhos não terão mãos
para brincarem com tabuleiros de usura.

Dizem por aquelas trincheiras
que para cada filho assassinado em Gaza
 há uma maldição professada contra os seus verdugos 
 até o ultimar de uma quinta geração.

Arte: Lisa Alves

ATO II

 Silenciadores

Pelo cadáver lançado
 a mais de cem metros.
 
Pela pegada de sangue
da mãe rebelada.

Pelos filhos escoltados
no futuro orfanato.

Convocamos um minuto de revolta por Gaza,
pois o silêncio (até hoje) só serviu de munição.
 
Arte: Lisa Alves

 ATO III

Antropofagia

Dois foguetes
Para cada “Não!” confesso.
Devorarei os ossos dos meus filhos
quando não sobrarem mais suprimentos,
para que não se volvam em iguaria basilar do Inimigo.

Insurgente alma,
durma nessa carne
que nomeio corpo
 
e não desperte mais pelas manhãs nem labute ao lado de nossos fantasmas.
Gaza, eu não desejo mais uma noite!

*

Poemas de Lisa Alves. Mais da autora em A Fábula de um Mundo Real.

9 comentários:

Anônimo disse...

Lisa Alves faz sua poesia de granada, ao mesmo tempo, delineada com fina ironia. Boa parte de seus textos são de cunho social, mexendo com o que está adormecido dentro de muitas pessoas. Lisa incomoda e convida à revolta. Mas esta é só uma de suas faces, veja mais em: http://lisaallves.blogspot.com.br/

Tania Anjos disse...

“Se os líderes lessem poesia, seriam mais sábios.” (Octavio Paz).

Foi um prazer conhecer a poesia de Lisa Alves. Quanto talento! Faz brotar sentimentos dos mais diversos... E as ilustrações são também incríveis.

Beijos!

lisa disse...

Larinha, muito feliz de estar aqui! E além do mais através de você que já faz parte dessa minha trajetória de poesia e contos! Muita gratidão pelo real apoio e troca! beijos

José Carlos Sant Anna disse...

E aí, primeiro a Lara por nos aproximar da poética de Lisa e da sua capacidade de, pela palavra, nos instar a pensar o mundo que nos rodeia e de mostrarmos a nossa insurgência, e a Lisa, por um verbo tão vigoroso, esta incrível manifestação de vida, que emana de cada palavra, de cada verso, levando-nos a sair deste imobilismo.
beijos, às duas,

PAULO TAMBURRO. disse...

LARA,

sou seu mais novo seguidor.

Tenha certeza absoluta que, retornarei sempre, porque inclusive, faltou muito coisa para ler.

Mas , pelo que já vi, você é extraordinária, nestes eternos versejar, enfim...

Um abração carioca.

Anônimo disse...

Gostei da primeira poesia. Pois me tocou. Foi bem observada e resume a época que vivemos. Muitas vezes me faltam as palavras para explicar. E você tão bem diz tudo que precisa ser dito para compreender.
beijos

Dario B. disse...

Contundente a poesia da Lisa, faz pensar e eu acho que esse é o principal papel da Arte. E um agradecimento a Lara por ter me apresentado a poetisa e o blog que eu não conhecia, apesar de tantos amigos que fazem parte dele. Preciso ter mais disciplina e abandor um pouco as redes sociais, que apesar da interação que permitem, acabam por me furtar um tempo que pode ser melhor aproveitado, como no caso.

Guillermo Castillo disse...

Excelente. Un drama en tres dramas que no tienen nombre.

Saludos desde Colombia.

lisa disse...

Grata pela leitura e pelos comentários, é muito bom ver o verbo tomando outras formas em outros olhos.