Os párias
Os anjos da cidade vêm da esquina
de praças e barrancos
surgem do chão de surpresa
já sem asas
estão nos botequins
dormem nos bancos de praça
nas calçadas.
Sofrem de fome em bandos
sem ter aonde levar
seu cheiro
sua revolta.
Os anjos da cidade nos sitiam
deuses sem brilho
feitos de folhas secas e unhas.
São flébeis e nos avisam
com os olhos fugidios
:
o inimigo vem de qualquer lado.
Às vezes velam os que
por suas mãos
restaram mortos
e riem
diante desses anjos desfolhados.
Um anjo desossado ingressa às vezes
no sangue de quem passa
e deita em suas horas e adormece
de um sono escuro opaco de
lembranças.
Os párias da cidade todo dia
geram outros anjos feitos
de fumo e cocaína e cola e craque.
Maria
Maria está
diferente
pensa em flores
e elas chegam
ouve vozes
ri atoa.
O que acontece
com ela
é uma voz no
nextel
e Maria perde o
freio.
O dia vem
de repente
antes do sol
acordar
porque o poder
de Maria
ilumina o mundo
em volta.
Em família
Os pais os
olhavam
tristes
como quem sofre
dores muito
antigas
sonhos pisados
e um atavismo de
culpas
sem remédio.
Na hora mais
quente do dia
a casa em
desalinho
longe do pai
a mãe lavando a
louça
deixaram os
brinquedos no porão
tentando salvar
a vida
mais para lá do
portão.
Levavam
olhos de choro
olhos de choro
as dores já tão
antigas
dentro da pele.
3 comentários:
Belos poemas, Dade!
Ricos em profundas significâncias...
Grande abraço.
Sou suspeita: adoro ler a Dade! :-)
Beijos,
Nossa! Não conhecia o espaço e que belíssimos poemas, Dade. Estou ainda mais encantada.
bj
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