PÁGINAS

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Poemas de Dade Amorim




 Os párias


Os anjos da cidade vêm da esquina
de praças e barrancos
surgem do chão de surpresa
já sem asas
estão nos botequins
dormem nos bancos de praça
nas calçadas.

Sofrem de fome em bandos
sem ter aonde levar
seu cheiro
sua revolta.

Os anjos da cidade nos sitiam
deuses sem brilho
feitos de folhas secas e unhas.
São flébeis e nos avisam
com os olhos fugidios
:
o inimigo vem de qualquer lado.

Às vezes velam os que
por suas mãos
restaram mortos
e riem
diante desses anjos desfolhados.

Um anjo desossado ingressa às vezes
no sangue de quem passa
e deita em suas horas e adormece
de um sono escuro opaco de lembranças.

Os párias da cidade todo dia
geram outros anjos feitos
de fumo e cocaína e cola e craque.





Maria

 

 

Maria está diferente
pensa em flores
e elas chegam
ouve vozes
ri atoa.

O que acontece com ela
é uma voz no nextel
e Maria perde o freio.

O dia vem
de repente
antes do sol acordar
porque o poder de Maria
ilumina o mundo em volta.


 

Em família

 

Os pais os olhavam
tristes
como quem sofre
dores muito antigas
sonhos pisados
e um atavismo de culpas
sem remédio.

Na hora mais quente do dia
a casa em desalinho
longe do pai
a mãe lavando a louça
deixaram os brinquedos no porão
tentando salvar a vida
mais para lá do portão.

Levavam
olhos de choro
as dores já tão antigas
dentro da pele.







3 comentários:

Tania Anjos disse...

Belos poemas, Dade!

Ricos em profundas significâncias...

Grande abraço.

Tania regina Contreiras disse...


Sou suspeita: adoro ler a Dade! :-)
Beijos,

Ira Buscacio disse...

Nossa! Não conhecia o espaço e que belíssimos poemas, Dade. Estou ainda mais encantada.
bj